– “Mãe, qual dos dinheiros você quer? Um ou cinco?”
Pergunta ela com as mãozinhas cerradas e sorriso esperto no rosto e arremata com ar profundo de esperteza:
– “Pode querer os dois!”
Olhei com ternura e pensei: essa menina linda de rosto pequeno me pergunta sobre números, quantidades, não sabendo ela que alegria foi a sua chegada, ao meu lado, e não havia outra resposta senão a que lhe pudesse demonstrar a unicidade de meu bem-querer, pois foi quando respondi:
– “Um!”
E sorri com amor. Ela torceu a boquinha com ar de riso preso e me deu o que tinha em uma das mãozinhas: uma moeda de um real. E perguntou, como quem, sorrindo piedosamente, não queria me ver perder um número de dinheiro que lhe parecesse maior:
– “Você também quer cinco?”
Respondi, com riso resignado, que sim. Ela então me entrega o que tinha em sua outra mãozinha: uma moeda de cinco centavos. Me dá um beijo de ternura e sai, feliz em ter sido tão caridosa e boa comigo. A moeda de cinco centavos lhe parecia mais valiosa, afinal, o número era maior!
Maior é o meu encanto. Cá estou eu, rica, com meu um real e cinco centavos de doçura, depois de um beijinho feliz e sabido daquela menina linda.
Quantas vezes na vida perdemos ou ganhamos beijinhos doces por escolhermos mal as quantidades e valores que temos em nossas mãos? Quais são, na verdade, os nossos encantos queridos? Por que desconfiamos de bem-queres e fazemos joguinhos sem compaixão? Por que desconfiamos e solicitamos às pessoas que façam escolhas sem darmos a elas a oportunidade de recobrar suas ações com o benefício do esclarecimento das dúvidas ou indicações sobre as ações que mais nos parecem fazer bem?
Que esperteza é essa que pensamos ter em escondermos sentimentos puros quando, na verdade, o maior amor está, justamente, em cada decisão de se ternar vulnerável ao próprio amor? Queremos ganhar mais o quê e de quem?
Estou aqui: rica com minhas duas moedas. Desejo, carinhosamente, sempre que a mim for permitido, que cada riqueza próxima me mostre valores que dinheiro nenhum é capaz de alcançar.